terça-feira, 8 de novembro de 2011

www.forumespirita.net - Fórum de estudo da Doutrina Espírita. Partilha de conhecimento, experiência e recursos espíritas. Chat, downloads, audiobooks, palestras, vídeos, livros, mensagens, música, e muito mais...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cicatrizes (Por Bia Araujo) - Último Capítulo

A palidez de Elisa assustou Samira que com a voz trêmula e os olhos rasos d'água pediu:
- Por favor me ajude.
- Claro Elisa venha comigo.
- Não aqui não, por favor, estamos muito perto (enquanto falava Elisa olhava assustada para trás)
Samira percebeu que ali estava bem mais que uma simples briga de paqueras, sim, talvez ali estivesse a sua oportunidade de por as mãos no safado do João.
- Tudo bem Elisa pegue um táxi e me espere no Parque dentro do táxi. Dizendo isso Samira correu e entrou no ônibus quando chegou ao parque Elisa já a esperava entrou no táxi e pediu ao motorista para deixá-las em seu apartamento.
Fez com que Elisa entrasse e enquanto servia uma bebida discretamente colocou sua bolsa em cima da mesinha de centro com o gravador ligado.
Sentou-se em frente à outra e perguntou:
- Tudo bem Elisa aqui ninguém pode nos ver ou ouvir respire fundo e me conte o que te assustou tanto.
- Você não vai acreditar, ninguém vai acreditar em mim.
- Elisa por favor eu acredito em você.
Respirando com dificuldade e com as palavras saindo aos borbotões ela despejou:
- Sabe hoje quando você me encontrou saindo da sala da segurança?
- Sim.
- Eu fui até lá porque o Marcos disse que o João estava me chamando, que era urgente, que ele mesmo olharia o sanitário prá mim.
Acanhada Elisa baixou os olhos e continuou com a voz embargada:
- Eu to gostando do João sabe? É de verdade é amor mesmo sabe?
- Respire fundo Elisa.
- Pois é quando cheguei lá o João não estava então fiquei chateada e voltei só que quando eu entrei no banheiro ele tava com uma bolsa em cima da bancada aberta e ela estava cheia de dinheiro, muitas notas de 20 e 50 reais, eu nunca vi tanto dinheiro junto.
Samira teve que prender a respiração para que Elisa não percebesse sua satisfação.
- E então Elisa, como posso te ajudar?
- Quando ele me viu me imprensou na parede apertando minha garganta até eu ficar sem fôlego e disse que se eu contasse prá alguém o que eu tinha visto ali esse ia ser meu fim e da minha família.
Elisa voltou a chorar soluçando desesperadamente.
- Você entende que só há um jeito de você proteger a você e a sua família não é? Perguntou Samira.
- Eu vou fugir, por isso preciso da sua ajudea olha você me empresta o dinheiro e eu assino minha demissão aí você recebe o dinheiro e pode ficar com tudo, por favor, eu não tenho mais ninguém me ajude.
- Elisa você tem que denunciar o João.
- Não, se você não quer me ajudar tudo bem, mas isso nunca.
- Mas Elisa você sabe que dinheiro é aquele não sabe?
- Sei Samira é o tal do dinheiro falso que ele armou prá cima da Margo coitadinha.
- Então Elisa você vai deixar a Margo continuar presa e vai fugir por causa de um bandido? Porque é isso que o João é: um bandido.
- Samira eu não posso eu to morrendo de medo você precisava ver os olhos dele enquanto apertava minha garganta, Samira ele tava gostando de fazer aquilo.
- Elisa a polícia pode te proteger, eu mesma posso te arranjar um emprego em outra Cidade onde ninguém nunca mais vai te achar.
- Não eu não posso fazer isso, já que você não vai me ajudar eu vou embora.
- Por favor Elisa você pode ficar aqui até o julgamento, eu te ajudo no que você precisar, posso até te levar prá fora do País ele nunca mais te veria.
- Não, Samira eu to morrendo de medo, eu não vou fazer isso, sei que ele é um bandido, sei que Margo é inocente, mas eu to com muito medo.
- Tá bom Elisa, fica aqui esta noite, amanhã pela manhã eu vou até o caixa eletrônico e tiro o dinheiro prá você ir embora e, claro, não vou ficar com seu dinheiro, depois você me liga e mando o dinheiro da sua demissão prá onde você estiver.
- Eu prefiro ir prá casa e amanhã eu venho com minhas coisas e daqui eu vou embora direto.
- Tudo bem então vou levar você em casa.
- Nossa agora que você falou me diz Samira: como você consegue ter um apartamento deste e um carro com o nosso salário.
- Isso é outra história depois te conto, Elisa fica aqui hoje é mais seguro.
- Não tem perigo não, amanhã cedinho estarei aqui.
- Você é quem manda eu ainda penso que você não deveria ir mas já vi que não adianta insistir.
- Obrigada Samira, muito obrigada mesmo.
Às nove da manhã do dia seguinte, Samira está andando de um lado para o outro de sua sala, sentado no sofá está Belisário com o pequeno gravador nas mãos.
- Ótimo trabalho sócia, você é demais vale por dez!
- A Belisário estou tão preocupada já era prá ela estar aqui, o celular fora de área.
- Vai ver ela desistiu de fugir.
- Não, ela tava muito apavorada, ontem quando a deixei em casa eu vi o medo nos olhos dela.
- Sabe lá fizeram as pazes.
- Não, minha intuição não falha, alguma coisa muito séria aconteceu com Elisa.
- Samira vamos até a casa dela então.
Chegando na esquina da rua onde Elisa mora havia uma pequena multidão, Samira desce do carro às pressas e abrindo caminho chegou até o corpo estendido no chão. Após o susto abaixou e levantou o plástico que o cobria. Belisário puxou seu braço e levou-a até o carro.
Ela respirou profundamente e com os olhos marejados disse:
- Ela está com a mesma roupa e sapatos de ontem.
- Samira eu sinto muito, muito mesmo mas você sabe o que tudo isso significa pra nós não sabe?
- Sei sim, nossa missão acabou, agora é colocar Marcos e João em salas separadas e qualquer delegado consegue que eles se acusem. Ontem depois que voltei prá casa eu transcrevi o depoimento da Elisa agora é so fingir uma assinatura e dizer que ela esteve na delegacia ontem antes de ir prá casa.
- Isso mesmo minha amiga então vamos terminar nosso trabalho.
Belisário ligou o carro enquanto Samira, pelo telefone, pedia rapidez no recolhimento do corpo. Em seguida ligou para a funerária e pediu a um amigo que cuidasse do enterro que ela fazia questão de custear e de comparecer.
Com os depoimentos de Marcos e Margo e a fita gravada de Elisa foi fácil condenar João por todos os seus crimes entre eles de falsificação de moeda nacional, perjúrio, homicídio doloso, estupro e agressões, somando todas as penas ele ficaria trancafiado por, no mínimo, 25 anos e sem direito a condicional.
Quando o portão do presídio fechou atrás de si Margo olhou para os lados e sem saber o que fazer, nem pra onde ir, sentou ali mesmo no meio fio. De repente sentiu que alguém sentava ao seu lado e a envolvia num abraço oferecendo-lhe o ombro onde ela se apoiou e deu curso às lágrimas.
- Desculpa doutora, desculpa.
- Por favor não tenho nada que desculpar.
- Eu já tomei muito o tempo da doutora e sei que a senhora é muito ocupada eu vou procurar meu rumo, doutora muito obrigada, muito obrigada mesmo.
- Você vai prá onde Margo?
- Não precisa se preocupar não doutora, eu vou procurar umas amigas.
- Talvez você possa me fazer um favor então.
- Eu?! Doutora o que eu posso fazer pela Senhora?
- É que eu to precisando de alguém prá me ajudar.
Margo levantou os olhos para Samira e, entre lágrimas, perguntou:
- Ajudar a doutora no que?
- Se eu te disser você não vai acreditar é melhor eu te mostrar.
- Que isso doutora eu não acreditar na senhora?
- Margo você confia em mim?
- Que pergunta doutora, claro que confio.
- Então vem comigo por favor.
Samira levantou-se e levou Margo até o carro. Durante o trajeto Samira entregou a Margo um envelope com fotos atuais dos filhos e, apertando sua mão garantiu que em breve ela teria os filhos a seu lado.
Quando pararam no shopping Margo saiu do carro toda envergonhada, Samira abraçou-a e levou-a até o Centro de Estética, duas horas depois, se reencontraram na sala de espera. Margo estava com uma leve maquiagem, os cabelos cortados e bem hidratados, unhas feitas. Um sorriso acanhado nos lábios abraçou Samira agradecendo.
Entraram em uma botique e lá, depois de muita insistência e com a ajuda de Samira, Margo escolheu um vestido florido, scarpin bege, uma bolsa combinando e lingerie adequada.
Ao cair da noite estavam sentadas na sala do apartamento de Samira conversando e fazendo planos para o futuro. Samira conseguira convencê-la a aceitar um emprego ali em sua casa. Margo trabalharia de dia e a noite faria um supletivo para se preparar para a faculdade o que, Samira não abriria mão, afinal quem a substituiria em suas tão sonhadas férias.
Quando a campainha tocou Samira pediu a Margo que atendesse à porta enquanto iria retocar o batom. Ao abrir a porta Margo encontra Belisário com um bouquet de rosas vermelhas e uma garrafa de vinho nas mãos. Ao mesmo tempo ouve a porta da entrada de serviço bater.
Belisário estende o bouquet e ela muito acanhada com a cabeça baixa agradece.
Samira trazia um leve sorriso nos lábios ao entrar no carro, há muito percebera o brilhos nos olhos dos dois, agora tinha a certeza de que seu amigo encontrara uma grande mulher.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cicatrizes (Por Bia Araujo) - Capítulo 3

Ao entrar na sala, esbaforida, Margo quase esbarrou em um homem que nunca tinha visto antes. Belisário era um homem de meia idade, alto, forte, pele clara de cabelos lisos em um tom castanho mas com as têmporas já grisalhas, tinha os olhos verdes, poderia se dizer que era um belo exemplar de homem.
Olhando a mulher parada à sua frente Belisário pode observar a franqueza do olhar que, no momento, exprimiam a decepção em vê-lo, estendeu a mão e apresentou-se:
- Muito prazer Senhora Margo, sou Belisário, fui designado pela defensoria pública para representá-la no Tribunal.
- Prazer (respondeu Margo com a voz embargada pela tristeza e cabisbaixa).
- Por favor vamos sentar (pediu Belisário mostrando as cadeiras).
Esperando que Margo se acomodasse olhou-a discretamente e, não pode deixar de comparar a figura que estava à sua frente com as fotos que compunham o processo, notou as marcas dos maltratos e, já no íntimo, sabia que estava diante de uma pessoa inocente.
Em seus trinta anos de advocacia, desde a época do estágio, Belisário tinha uma astúcia natural, algo que beirava o misticismo, nunca havia se enganado quanto a um cliente. Diante das marcas que Margo exibia em seu corpo e, seu olhar entre triste e assustado, Belisário já tinha certeza de que ela não se corrompera. Tinha um caso difícil pela frente seria uma luta árdua mas, era otimista, encontraria uma saída. Virou-se para Margo:
- Preciso que a senhora me conte tudo, desde o início.
- Prá que doutor? Já contei prá tanta gente e de que adiantou?
- Já que é assim não posso obrigá-la a falar mas quero que saiba que seu caso é difícil e sem a sua ajuda ficará quase impossível ajudá-la. Diante do silêncio de Margo, Belisário, já acostumado com este tipo de situação, foi juntando seus papéis lentamente e lançou seu trunfo:
- É uma pena que não queira cooperar seus filhos estão esperando notícias.
De pronto Margo levantou para ele seus olhos já úmidos de emoção e perguntou:
- Como estão doutor?
- Diante das circunstâncias até que estão bem, desculpe mas precisei de alguns documentos para completar o processo.
- Tudo bem doutor, o que preciso fazer? Quero saber dos meus filhos, Leandro já está bem da pneumonia? Vanessa ela ainda tá namorando o Thiago? E Júnior continua ajudando na venda do seu Joaquim? E... e... e Gil doutor como está ele?
- Estão todos bem Margo, Leandro está ótimo, seus filhos são lindos e muito bem educados, meus parabéns. Agora conte-me tudo desde o princípio, não omita nenhum detalhe por mais insignificante que seja, vou gravar nossa conversa.
Belisário ligou o gravador e Margo começou seu relato, depois de quase uma hora ouvindo Margo ele já percebera que nos momentos de mais tensão, provavelmente quando sofrera abusos e maltratos, ela engasgara e torcera as mãos tentendo disfarçar o nervosismo. Nesses momentos Belisário pedira que não escondesse nada mas Margo estava receosa ele tinha consciência de que para ela seria difícil abrir-se tanto com um homem.
Caminhando para seu carro Belisário repassava mentalmente sua entrevista com Margo, estava mais convencido ainda de sua inocência, não deixara transparecer para não criar expectativas mas notara que ao se despedir uma luz diferente brilhava em seu olhar contudo, precisava saber dos detalhes que ela, por puro pudor, omitira. Entrou em seu carro e sacando o celular ligou para o escritório, pediu que sua sócia chegasse mais cedo na manhã seguinte, era isso, com uma mulher Margo com certeza se abriria mais e, disso não duvidava, Samira sempre conseguia o que queria.
Samira era uma negra com 1.70 de altura, corpo bem delineado pelas horas de musculação, cabelos curtos e olhos grandes e negros adornados com cílios espessos e um sorriso cativante, já há alguns anos Belisário contava com sua inteligência e malícia na defesa dos diversos processos que lhe eram confiados. Fizera uma boa escolha na sociedade tinha por Samira verdadeira amizade e confiança, admirava-a pela coragem e perseverança.
No dia seguinte em seu escritório Belisário repassou para Samira os detalhes de sua preocupação com o caso de Margo. Depois de ouvi-lo Samira pegou todo o processo e a fita gravada e sentou-se em frente ao computador.
Ao ser chamada para mais uma visita Margo dirigiu-se para a sala calmamente, agora tinha certeza, pelas respostas evasivas do Doutor Belisário, que Gil não a perdoara. Entrando na sala deparou-se com uma mulher linda. Samira estendeu a mão para Margo apresentando-se e convidou-a a se sentar. Depois de acomodadas Samira começou:
- Poxa, armaram feio prá você né?
- Eu fui boba, jamais deveria ter mexido no que não me pertencia. Respondeu Margo timidamente.
- Você sabe como eu me tornei sócia do Belisário?
- Não, não sei.
- Vou te contar...
E, assim, Samira começou a contar sua história. Uns quinze anos antes ela trabalhava como empregada doméstica em uma mansão, novinha e linda logo chamou a atenção do patrão e, certa noite após uma festança ele que havia bebido demais foi até seu quarto e a estuprou violentamente. Samira engravidara e, ao procurar o patrão para pedir ajuda ele simplesmente jogou-a na rua, sem um tostão, dizendo que jamais seria pai de um "neguinho". Sem família, sem ter para onde ir, Samira perambulou pelas ruas e depois de alguns dias sem comida e água, tendo seus últimos pertences roubados, sentou-se em uma escadaria pois lhe faltava forças. O segurança do lugar veio expulsá-la dizendo que ali não era lugar para mendigos, ele a jogou na calçada e Belisário que vinha descendo a escada levantou-a do chão, subiu os degraus e mandou que o segurança lhe pedisse desculpas.
Como estava saindo para ir ao fórum para uma audiência, Belisário colocou-a sentada na cadeira do segurança e ligou para a assistente dele mandando que ela viesse buscar Samira. Quando voltou Belisário ouviu toda sua história e, compadecendo dela, levou Samira para sua casa. Lá ela trabalhou como sua doméstica, ele abriu um processo contra o seu patrão obrigando-o a pagar sua rescisão e assinar sua carteira. Belisário a inscreveu num curso noturno e, quando ela concluiu o 2º Grau, fez com que fizesse o vestibular. É claro que, Samira tomada de total admiração pelo seu patrão, escolheu o direito.
- E aqui estou eu. Concluiu Samira com aquele sorriso encantador.
- E o bebê? Pergunta Margo.
- Aborto espontâneo. Dias sem água e sem comida, os maltratos nas ruas, a falta de esperança, quem sabe?
- Sinto muito.
- Tudo bem, Deus sabe o que faz. Mas e você? Nossa pelo que estou vendo tem sofrido um bocado. Disse Samira olhando para as cicatrizes nos braços de Margo.
Diante do comentário Margo abaixou a cabeça aproveitando o momento Samira entrou direto no assunto:
- Vou ligar o gravador Margo preciso que você conte prá mim o que não teve coragem de contar para Belisário. Por favor confie em mim, todo e qualquer detalhe é importante e, com a sua colaboração fica mais fácil ajudá-la. Sem contar que você não tem mais nada a perder não é mesmo?
Margo com a voz embargada e os olhos marejados contou todos os abusos pelos quais havia passado, não ocultou nada, finalizou seu relato com a reação do marido e neste momento chorou toda a sua dor e seu desespero. Samira aguardou em silêncio respeitando o martírio de sua cliente e, quando esta se acalmou, concluiu:
- Nós vamos fazer de tudo para tirá-la daqui, mantenha a calma e continue agindo como tem feito até agora. Belisário acredita em sua inocência e agora vendo-a pessoalmente concordo com ele mas, infelizmente, nossa opinião de nada vale. Vai ser um grande desafio mas vamos encontrar um jeito.
Dizendo isso despediu-se de Margo prometendo que traria notícias de seus filhos.
Sentada em seu carro Samira repassava o processo em sua memória, algo não combinava, porque alguém deixaria aquela sacola em uma loja? Sabia que faltava algum detalhe e, com certeza, este detalhe a levaria a desvendar todo o problema. Depois de muito pensar disse para si mesma: "é isso", ligou para Belisário e combinou de comerem juntos uma pizza pois tinham muito que conversar e queria que ele ouvisse a fita.
Depois de alguns dias Samira entra na loja de Departamentos onde Margo trabalhara como a nova Encarregada da Limpeza, cargo que fora fácil conseguir com apenas alguns telefonemas, afinal ela e Belisário eram muito bem relacionados.
Neste cargo teria liberdade para acessar todas as dependências da loja e, ao mesmo tempo, vigiar todo o movimento. Já haviam visto as câmeras de gravação do dia em que Margo encontrara a sacola mas, justamente, aquela câmera estava com problemas e, por isso a única pista da qual dispunham era um retrato falado desenhado com a ajuda de Margo pois, até mesmo o reconhecimento através de fotos de pessoas fichadas não obtivera êxito.
João, como não podia deixar de ser, logo se engraçou por Samira o que ela, com muito cuidado, começou a alimentar. Depois de algum tempo, como já era de se esperar, Samira já era confidente de várias meninas, conseguiu chegar à funcionária que perdera o emprego depois de ter sido violentada por João e com muito tato convenceu-a a depor a favor de Margo. Era pouco mas melhor do que tinha em mãos até o momento.
Já sabia os postos e nomes de todos da segurança, percebera que antes de chegar haviam designado para o sanitário que Margo tomara conta a mais bonita das meninas e, que a pobrezinha da Eliza, ingênua que era, faltava pouco para cair nas lábias de João porém, não podia alterar nada precisava que sua presença passasse despercebida. Não podia chamar mais atenção do que o necessário e assim apenas observava.
Certo dia percebera no horário de almoço João de cochichos com Elisa, ela se derretia e sorria entre timida e vaidosa com os elogios que recebia. Viu João passar-lhe um papelzinho e, resolveu que não perderia Elisa de vista. Faltando poucos minutos para o final do expediente Elisa saiu sorrateiramente do sanitário e encaminhou-se para a escada que levava à sala da segurança. Pronta para seguir Elisa percebeu quando uma mulher veio direto da rua e entrou no sanitário. Atravessou o salão a passos largos e já ia alcançando o sanitário quando esbarrou em alguém. Ia dizer alguma coisa quando percebeu que a mulher já ganhara a rua. Respirou fundo e virou-se dando de cara com o capacho de João, Marcos era esse seu nome, disfarçando sorriu e pediu desculpas. Entrou no sanitário deu uma geral mas nada encontrou saiu muito contrariada era óbvio que Marcos havia esbarrado nela de propósito, mas porque?, não podia nem mesmo flagrar Elisa pois, agora precisava dela para descobrir o que estava acontecendo ali.
Fecharam a loja e Samira encaminhou-se para o ponto de ônibus, a noite já caira, e apressada ela percorreu todo o percurso e já estava quase alcançando o ponto quando seguraram seu braço, no susto virou-se e, para sua surpresa, Elisa estava parada bem à sua frente.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Cicatrizes (Por Bia Araujo) - Capítulo 2

Ao entrar na sala da segurança o Gerente da Loja já aguardava ansioso, andando de um lado para o outro, era um homem baixinho de meia idade, estava com um lenço nas mãos que usava constantemente para limpar a testa suada ele parou olhou para Margo e mandou que João fechasse a porta.
- Na minha loja, uma falsificadora na minha loja, você nunca mais porá os pés aqui.
Margo sem acreditar no que ouvia mais parecia uma estátua, trêmula, os olhos vidrados, um nó na garganta não permitia que emitisse qualquer som. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, não com ela, honesta trabalhadeira, não, só podia ser um pesadelo.
Olhando para ela com verdadeiro ódio o Gerente virou-se para João:
- Mande buscar suas roupas não quero que essa desclassificada saia daqui usando o uniforme da minha loja.
Saiu batendo a porta com força.
João fez sinal para que o segurança que o acampanhava fosse buscar as coisas de Margo e quando o mesmo saiu voltou-se para ela:
- É Margozinha, o mundo dá voltas né? Você tanto me esnobou e agora tá aqui na palma da minha mão, até que a polícia chegue teremos muito tempo e tenho certeza de que antes de você sair daqui nos entenderemos muito bem.
Mais do que suas palavras, o tom de voz e o sorriso debochado, fez com que Margo, por puro instinto desse um passo atrás.
O segurança voltou com suas roupas e sua bolsa e João mandou que ele saisse e ficasse de prontidão na porta ninguém poderia entrar antes que ele desse ordens.
João foi até a porta e girou a chave, colocou as roupas de Margo em cima da mesa e disse:
- Pronto Margozinha pode se trocar.
Sentou-se em uma cadeira colocando os pés sobre a mesa olhando-a fixamente enquanto se alisava sobre a calça.
Como ela continuasse parada ele levantou-se bufando e foi até ela dizendo em seu ouvido:
- É melhor fazer o que mando e rápido porque senão chamo toda a rapaziada para me ajudar a trocar sua roupa. Você duvida? Tenho certeza que eles iriam adorar colocar a mão neste corpinho maravilhoso.
Ela não duvidava sabia muito bem que ele seria capaz, assustada e tremendo começou a tirar a roupa, de cabeça baixa não olhava para seu colega de trabalho porque tinha certeza de que ele nem piscava.
De calcinha e soutien foi até a mesa pegar sua roupa mas João a interceptou:
- Nada disso Margozinha faltou o resto e é bom fazer isso logo que a polícia já está chegando.
A sala da segurança ficava no subsolo era, propositadamente, longe da loja sabia que estava a mercê de João e que o rapaz de prontidão atrás da porta era lacaio dele e caíra nas graças do chefe por executar todas as suas ordens sem questionar e entregar os colegas. Já tinha ouvido alguns casos de funcionárias da loja que tinham pedido demissão porque eram perseguidas por eles e, contavam, que Mariazinha tinha sido até molestada naquela mesma sala e, apesar de te-los denunciado ao Gerente o advogado da loja argumentou que ela é quem tinha dado confiança a eles e que tinha testemunhas de que ela fora sozinha até a sala da segurança.
Margo tinha a impressão de que não estava respirando, sua garganta e seus olhos estavam secos, seu corpo tremia queria falar mas não conseguia, sabia que não adiantava gritar porque ninguém ouviria.
Tirou a calcinha e o soutien e de cabeça baixa estendeu a mão para pegar sua roupa quando sentiu a mão de João ao redor de seu pulso. Ele estava em pé ao lado dela puxo-a até ele e começou a acariciar seu corpo enquanto dizia em seu ouvido com voz rouca:
- Fique quietinha, ah você é mais linda do que eu pensava, se você fizer ou falar qualquer coisa eu mando chamar toda a rapaziada.
Congelada Margo ficou imóvel ele jogou-a de bruços sobre a mesa e a possuiu, várias vezes violentamente, com puxões de cabelo, tapas e mordidas. Ela queria gritar, queria chorar, queria fazer alguma coisa mas não conseguia.
- Você é mais gostosa do que eu pensei, acho até que vou te fazer visitas íntimas na cadeia, agora pode vestir sua roupa que vou ligar para a polícia.
O comentário maldoso foi acompanhado de uma gargalhada.
Humilhada com os pensamentos tulmutuados e o corpo dolorido e marcado pela violência da qual acabara de ser vítima Margo vestiu-se mas continuou em pé.
Não sabe quanto tempo passou, não tinha noção de nada, quando de repente a porta abriu-se e João entrou acompanhado pela polícia, com as mãos algemadas a cabeça baixa foi arrastada até os fundos da loja onde a jogaram dentro de uma viatura.
Na delegacia foi colocada em uma sala sozinha e, só então, começou a prestar atenção em seus pensamentos: o que seria dela? quem acreditaria na sua história? tudo bem, seu marido e seus filhos com certeza ficariam do seu lado; mas como pagariam um advogado?
Não conseguia concatenar suas idéias, depois de horas a porta se abriu e um policial pegou-a pelo braço entrou em outra sala e a fez sentar em frente a uma mesa. Por detrás da mesa um homem com um olhar frio apresentou-se como o delegado, do outro lado da sala uma mulher estava sentada atrás de uma máquina de escrever, ele virou-se para Margo e foi falando:
- Desembucha, qual o endereço da gráfica?
Sem entender nada Margo olhava assustada e como não disse nada ele deu um soco na mesa, ela estremeceu, ele repetiu a pergunta.
- Eu não sei (respondeu ela com a voz trêmula e fraca)
De novo ele socou a mesa, levantou-se e começou a andar ao redor dela, abaixou-se e falou em seu ouvido, porém aos gritos:
- É melhor você colaborar, você tá muito encrencada nós já achamos isso na sua casa (e mostrou a sacola), vai querer piorar as coisas pra você? Desembucha.
- Eu encontrei...
- Encontrou o quê?
Margo contou tudo desde o dia em que achara a sacola, ele a interrompia, gritava com ela, socava a mesa, ria dela, a chamava de mentirosa, e sua voz falhava. Ao final mandou que a recolhecem porém, desta vez, a levaram para uma cela.
Quando ouviu o som da grade se fechando atrás de si levantou os olhos e percebeu os olhares antagônicos de suas colegas de celas. Se encolheu ali mesmo junto à grade no chão.
No dia seguinte vieram buscá-la, tinha visita, quando entrou na sala e viu Gil, atirou-se nos braços dele e só neste momento toda sua dor e humilhação reverteram-se em lágrimas, chorou por todas as horas de angústia que tinha passado e, entre o choro contou para seu homem tudo que estava passando dos abusos que sofrera nas mãos de João, dos policiais menos escrupulosos e, agora, até das presas. Quando acabou seu desabafo Gil estava com a expressão séria e o olhar frio afastou-se dela, tentou abraçá-lo mas ele a empurrou e com um tom de voz que ela nunca havia escutado disse:
- Eu não sou homem de mulher que tenha se deitado com outro, se ele agiu assim é porque você deu confiança, vadia (gritou) esqueça que eu existo, nunca mais quero saber de você e não se atreva a chegar perto dos meus filhos.
Deu-lhe as costas e saiu porta afora as pernas enfraqueceram ela caiu no chão encolheu-se abraçando os próprios joelhos e chorou. O guarda pegou seu braço e foi arrastando-a até a cela.
Alguns dias depois levaram Margo para um presídio feminino.
Um mês depois pouco restava da mulher deslumbrante que chegara ali, rasparam sua cabeça, seus lábios cortados, o rosto inchado, os olhos fundos, os ossos sobressalentes tamanha sua magreza fora as marcas de queimaduras de cigarros que tinha pelo corpo. Tudo isso em função dos mal tratos por parte das presas que não a deixavam dormir, faziam-na de empregada, derrubavam sua bandeja na hora da refeição, batiam nela e davam queixa às guardas que quase todos os dias a colocavam na solitária.
Sua única família era Gil e os filhos, os amigos que deixara na loja não a aceitariam mais e, em sua comunidade não poderia voltar pois, por sua causa, a polícia estivera lá, com certeza não seria bem vinda. Estava só e esquecida naquele inferno e, em silêncio, amargava as dores do abandono.
Quando a guarda veio lhe buscar avisando que tinha visita caminhou a seu lado com um quase sorriso nos lábios, será que Gil se arrependera? só podia ser ele que voltara para ajudá-la a provar sua inocência e sair dali. Gil sabia que ela era honesta e trabalhadora. Seu homem a conhecia bem e não a deixaria naquele lugar.
Com o coração aos pulos abriu a porta da sala onde era aguardada e entrou.
Continua...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Cicatrizes (Por Bia Araujo)

Margareth ou Margo, como era chamada por seu marido, ah... só de pensar em Gil sentia seu corpo tenso de tanta excitação, mas como ia dizendo Margo era uma negra alta, corpo escultural, que apesar de não frequentar mais a academia, o que fazia com obsessão, quando desfilava em sua escola de samba do coração, chamava a atenção por onde passava.
Naquele dia em especial estava radiante pois, Gil chegara cedo em casa, as crianças estavam na rua e seu homem sabia aproveitar bem os prazeres no corpo de uma mulher. Caminhando em sua sandália plataforma, jeans colado ao corpo e uma blusa de alcinha que ajudavam a valorizar mais ainda suas formas ela ia pensando em como fora boa a noite com seu homem, tivera sorte Gil era um amante sem igual, pai presente que trazia os filhos sob rédea curta é claro que tinha o problema de às vezes se deixar levar por algum rabo de saia, mas ela sabia que não era culpa dele afinal, um negro lindo como aquele, com mais de 1,90m de altura, seus 90kg de puro músculo e aquela boca em formato de coração, não passa despercebido em lugar algum. Ahhh... suspirou é tinha sorte mesmo.
Trabalhava em uma loja de departamentos, em um bairro classe média-alta, de segunda a sábado, ufa... que bom que já é sexta... entrando na loja cumprimentou o segurança:
- Bom dia João.
- Bom dia Margozinha do meu coração.
- Pára de graça João sou mulher casada respeita.
- Ah, Margozinha fica zangada não, pô tu é mulher de parar o trânsito nega quem dera ter uma assim lá em casa aliás, um dia você ainda vai ser minha.
Todo dia era a mesma coisa, sabia que João olhava para ela de forma diferente dos demais colegas, sabia que em suas "brincadeiras" falava a verdade, ele "babava" por ela até na frente da mulher porém, naquele dia sentira um mal estar com suas palavras e por isso foi em frente sem se dar o trabalho de responder.
Chegou no vestiário trocou de roupa e antes do horário já estava em seu posto, era responsável por um dos sanitários da loja, o pior de todos pois, ficava no primeiro piso ao lado da entrada. A loja tinha 3 andares, com 4 sanitários por andar, cliente nenhum poderia reclamar pois a loja oferecia toda uma variedade de produtos e todo conforto aos seus clientes.
O dia transcorreu tranquilamente até que perto do horário de fechamento da loja entrou no banheiro uma mulher bonita, bem vestida, carregando alguns pacotes, mas o que chamou a atenção de Margo foram dois detalhes; primeiro a mulher não tinha nenhum pacote de sua loja e segundo ela estava muito apressada, ao entrar quase que correndo dera uma trombada em Margo, por entre os dentes pediu desculpas e entrou no boxe. Novamente Margo sentira aquele mal estar porém, deu de ombros, afinal vai ver que a pobre coitada só estava apertada para ir ao banheiro, mal sabia Margo o que a aguardava.
Chegando na porta do sanitário viu um corre-corre e percebeu que haviam pego alguém no alarme em seguida lembrou-se da pressa da senhora que entrara e, quando viu João que era o chefe da segurança, passar acompanhando outra mulher chamou-o porém sua tentativa foi em vão pois por trás dela a senhora deu uma corrida e alcançou a calçada sumindo entre os transeuntes e por outro lado João fez-lhe sinal de que voltaria depois.
Margo respirou fundo afinal nada poderia fazer pois a senhora já ganhara a rua ao perceber que seus colegas se preparavam para fechar a loja deu um último retoque nos boxes e, quando preparava-se para sair percebeu uma bolsa em cima do balcão da pia. Aproximou-se e olhando dentro da sacola viu um envelope pardo apalpou e não consegui atinar o que estava em seu interior.
Respirou fundo, pegou suas coisas e a sacola e quando saiu do sanitário percebeu que a loja estava fechada e, obviamente, o achados e perdidos também e agora o que faria. Tentou encontrar João porém ele estava na delegacia formalizando a queixa contra a ladra que fora pega.
Pensou em seus filhos e seu homem que a esperava sentiu um calor gostoso e decidiu que, provavelmente, a senhora voltaria no dia seguinte para reclamar seu pacote, por isso não perderia mais tempo, trocou de roupa e foi pra casa levando a sacola.
Sábado apesar da tranquilidade do dia, Margo sente seu coração apertado, nada da dona da sacola voltar e já não podia mais entregar no achados e perdidos pois, tinha certeza, de que seria chamada a atenção por não ter feito isso no dia anterior e, não podia correr o risco de perder o emprego, o gerente é muito severo no que diz respeito a honestidade e, claro ele não acreditaria que o setor onde deveria entregar a sacola já estava fechado quando ela a encontrou.
O final de semana é tranquilo para Margo, apesar de Gil ter chegado no sábado com a triste notícia de sua demissão, claro que injusta, afinal Gil era trabalhador, honesto, não faltava um dia e nem chegava atrasado, simplesmente porque o patrão encrencara com ele achando que Gil estava interessado em sua mulher, agora vejam só se Gil iria querer alguma coisa com aquela branquela sem graça, é claro que ela devia estar dando em cima dele e o marido, como todo corno, não via isso. Tadinho do Gil sempre tão perseguido até parece que tem culpa de ser tão bonito, viril e sarado ele ficava até mais tarde no trabalho só para fechar a loja para a branquela, que injustiça.
Passam-se alguns dias e nada da dona da sacola aparecer. Margo deixa a sacola em seu armário em casa, afinal de que adianta ficar carregando aquele peso morto.
Margo e Gil tinham três filhos, Vanessa com 14 anos, estudiosa, mulata bonita que herdara a beleza da mãe, ajudava nos afazeres domésticos, vaidosa já namorava a algum tempo Thiago, o garoto mais cobiçado da comunidade. Júnior, mesmas características do pai, contava com seus 13 anos, não queria nada com estudos, ganhava alguns trocados ajudando a carregar compras na mercearia do Seu Joaquim e Leandro, com seus 5 anos, ficava aos cuidados dos irmãos.
Algumas semanas passaram e, diante do desemprego de Gil, a situação financeira da família estava muito apertada, ao chegar a noite em casa em um dia de semana Margo encontrou Leandro com febre alta, depois de fazer de tudo para baixar a febre e não conseguir levou ao hospital municipal mais próximo. O diagnóstico não foi nada animador, Leandro estava com pneumonia dupla e precisava de remédios caros, excelente alimentação e tudo na hora certa.
Margo voltou pra casa com o filho sem saber o que faria, não tinha mais dinheiro, Gil ficara menos de três meses no emprego e ela já tinha estourado sua cota de vales no mês.
Colocou Leandro na cama, sentou-se na sala tentando encontrar uma saída, sem nenhum motivo lembrou-se da sacola que estava do mesmo jeito no fundo de seu guarda-roupas. Abriu o envelope e quase teve um enfarto quando deu de cara com vários maços de notas de R$ 50,00 (cinquenta reais). Ficou tentando concatenar as idéias, contaria pra Gil o que havia encontrado? melhor não, pegaria apenas o suficiente para comprar os remédios e alimentação adequada para Leandro e no fim do mês colocaria o dinheiro no lugar. Não podia ficar com aquilo não lhe pertencia. Daria um jeito de assim que devolvesse o dinheiro colocar aquele pacote em qualquer lugar na loja para que o dono recebesse de volta.
Assim Margo no dia seguinte foi à farmácia, à mercearia e antes de ir pro trabalho deixou tudo pronto para Leandro em casa com instruções para que seus irmãos o medicassem e alimentassem na hora certa.
Levou uma das notas para o trabalho pois tinha visto um vestido lindo, de R$ 49,90, e como tinha o aniversário de 15 anos da filha da Suzi, na quadra da escola compraria, ia devolver mesmo o dinheiro, tinha certeza de pegar algumas notas emprestadas não faria mal a ninguém.
Chegou para o trabalho um pouco atrasada mas, diante da receita médica de Leandro, o Gerente abonou seu atraso.
Na hora de almoço, ligou para casa para saber notícias de Leandro, estava sem febre, tomou os remédios no horário e tinha comido pouco mas, pelo menos, comeu alguma coisa. Mais tranquila, apesar da noite mal dormida, Margo almoçou e feliz da vida foi experimentar o vestido, ficou lindo satisfeita com o que via no espelho, foi ao caixa pagar. A caixa registrou, pegou o dinheiro das mãos de Margo, olhou de um lado, olhou do outro, devolveu a nota pra Margo e pediu que aguardasse pois tinha dado um problema no caixa.
Margo ficou aguardando enquanto conversava, discretamente, com a balconista, distraída não viu nada de anormal até que João falou em seu ouvido para acompanhá-lo. Levou um susto com a proximidade e mais ainda com o tom de voz de João. Olhou em volta querendo entender mas as pessoas não pareciam estar percebendo nada. Com as pernas trêmulas e, os pensamentos mais contraditórios, foi caminhando bem devagar para a sala da segurança.
Continua ...